sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Fundador do Núcleo de Coimbra (1922-2022) - Augusto Casimiro dos Santos

 

Centenário do Núcleo de Coimbra (1922-2022)

Em 1922 foi “estabelecida a Agência em Coimbra (primeira), que iniciou a sua atividade com o senhor capitão Augusto Casimiro.



Augusto Casimiro dos Santos nasceu em Amarante em 11 de maio de 1889; e era filho de Cândida Rita dos Santos Prego Mester.

Casou a 5 de Junho de 1911, com Judite Zuzarte Cortesão, irmã do médico e historiador Jaime Cortesão, ficando a residir em São João do Campo.

Jaime Cortesão e Augusto Casimiro


Tal como era costume naquele tempo, com a idade de dezasseis anos, no dia 11 de agosto de 1905, assentou praça como voluntário no Regimento de Infantaria n.º 23, sediado em Coimbra.

Pertenceu a esta unidade até ser promovido a Alferes, no dia 15 de novembro de 1910, quando concluiu o curso de Infantaria da Escola do Exército.

Nos anos que se seguiram a ter assentado praça, gozando de licença para estudos, pelo que frequentou a Universidade de Coimbra. Enquanto estudante em Coimbra fez parte do Orfeão Académico.



Foi promovido a Tenente em 1 de dezembro de 1914 e a Capitão em 29 de setembro de 1917.

Participou na Grande Guerra, colocado no BI 23, comandou a 3ª Companhia, que segundo Jaime Cortesão, ele batizou de Quixote Company.

Alf Alberto Gusmão, Cap. Augusto Casimiro,
Maj. Hélder Ribeiro, Cap. Eduardo Vieira, Cap. Jaime Cortesão (?)


Jaime Cortesão, no seu livro Memórias da Grande Guerra, menciona-o várias vezes, referindo-o como o poeta Augusto Casimiro.

Foi várias vezes condecorado com a Cruz de Guerra, Fourragère da Torre e Espada de França, Ordem de Cristo,  Military Cross inglesa, Legião de Honra, Ordem de Avis.


Após o termo da Grande Guerra, lecionou no Colégio Militar, sendo de seguida integrado como adjunto na campanha que visava a delimitação da fronteira entre Angola e o então Congo Belga, trabalhando sob a direção do general Norton de Matos, então Alto Comissário da República em Angola.



Nesse período foi Governador do Distrito do Congo e Secretário Provincial e Governador interino de Angola (1923-1926).

Regressou a Portugal em consequência do Golpe de 28 de maio de 1926.

Ligado à oposição da ditadura, teve envolvimento na chamada Revolta da Madeira (1931), sendo sido demitido do Exército e deportado para Cabo Verde.

Enquanto permaneceu em Cabo Verde passou a conhecer de forma mais personalizada a literatura cabo-verdiana, que pôde descrever e valorizar como uma nova realidade. 

Permitiu assim perceber melhor como, na dialética contraditória e dolorosa da colonização e da luta anticolonial. Em 1930 afastou-se da Ditadura, por saber que estava comprometido o seu sonho civilizador em África e por aspirar a uma República democrática.

Comprometeu a carreira, sofreu a prisão e o desterro, mas não transigiu.

Foi reintegrado em 1937, após o que passou à reserva.



Manteve a oposição ao Estado Novo, tendo integrado o apoio à candidatura presidencial de Norton de Matos.

Depois da demissão do Exército, Augusto Casimiro passa a viver da parca pensão de reforma e dos rendimentos que obtinha como jornalista e escritor. 

Foi autor de poesia, ficção e textos de intervenção. Foi colaborador da revista Águia e cofundador (1921), dirigente e redator (1961 a 1967) da revista Seara Nova, principal órgão de comunicação que se oponha ao regime de Salazar e ao Estado Novo

Nos últimos vinte anos de vida ficou mais preso à política e à escrita, sofrendo ainda a perseguição da justiça militar e do aparelho repressivo do Estado Novo.



Participou em 11 de novembro de 1950, numa sessão para assinalar o armistício da I Guerra Mundial, sendo um dos oradores convidados da sessão que se realizou no Centro Republicano António José de Almeida, juntamente com Mário Soares, o general Ferreira Martins, Maria Helena Mântua e Alves Redol.



Em 1958 foi um dos apoiantes da candidatura de Arlindo Vicente à presidência da República, sendo membro da comissão central da respetiva candidatura. 

Fez parte também da tertúlia que reunia na pastelaria Veneza, em Lisboa, nos finais da década de 50 e inícios dos anos 60, onde se juntavam habitualmente e Ferreira de Castro, Julião Quintinha, Roberto Nobre, Luís da Câmara Reys, Mário Domingues, entre outros. 

Privou com Teixeira de Pascoaes (seu conterrâneo), Jaime Cortesão (seu cunhado), Raul Brandão e Raúl Proença, entre outros. 



Augusto Casimiro faleceu a 23 de setembro de 1967, em Lisboa. 

O seu corpo foi depositado no talhão da Liga dos Combatentes no cemitério do Alto de São João.